sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Uma mulher e 16 cartões de crédito



Há três anos, a servidora pública Alexandra Rufino, aos 33 anos, saiu do banco com uma enorme dívida para pagar em oito anos. Apesar de sua situação não ser nada boa, ela estava feliz, pois era bem melhor do que a anterior. Duas semanas antes, ela tinha 16 cartões de crédito e vinha pagando o mínimo da fatura de todos eles há pelo menos cinco anos.


Além das dívidas nos cartões, ela tinha em mãos também alguns boletos de compras de produtos ou serviços que havia parcelado. “Eu já não tinha mais crédito nos cartões, então dividia os pagamentos da forma que era possível." Ao parcelar suas compras e pagar o mínimo do cartão de crédito, Alexandra pagava altíssimos juros sobre o dinheiro que gastava. Além de pagar uma taxa às lojas para poder dividir o pagamento de suas compras em várias vezes, também pagava os encargos pelo crédito dos cartões.


“Hoje tenho apenas um cartão e pago a fatura inteira todos os meses,” afirma, orgulhosa. A dívida no banco, porém, foi negociada a um juro de pouco mais de 2% ao mês e ainda pesará em seu orçamento por mais sete anos, até 2019. “Consegui uma taxa bem menor do que a que eu pagava nos cartões,” diz.


O estímulo para mudar de vida veio dela mesma. "Minha dívida era mais do que duas vezes maior do que o meu salário, e eu ainda tinha que pagar as contas básicas. Um dia parei e pensei, 'preciso me controlar'. Eu tinha que dar um jeito. Então comecei a procurar informação na internet e no Procon," afirma.


Para não engrossar as estatísticas de endividados, a principal orientação de especialistas é que o consumidor use o cheque especial apenas para emergências. “Se ele tiver um infortúnio, pode pegar um crédito no banco. Mas assim que passado o problema, ele deve correr para o banco para quitar sua dívida ou renegociar a uma taxa mais baixa,” diz Macedo. O mesmo vale para o cartão de crédito. “Estas situações devem ser exceção, não hábito,” diz.


A dica de Muller é que o endividado não busque ajuda apenas quando a situação estiver muito ruim. “Nós, brasileiros, tendemos a só melhorar a alimentação quando o colesterol está no alto. Quando recebemos pedidos de pessoas que querem falar sobre suas finanças, elas já estão tecnicamente falidas e resta apenas renegociar a dívida,” afirma.


Denise Hills, superintendente de Sustentabilidade do Itau Unibanco, concorda. Ela destaca a importância da busca de educação financeira a qualquer momento, o que pode levar o endividado a mudar seu comportamento e ter uma vida financeira mais saudável. “Todos os dias tomamos dezenas de decisões financeiras, mesmo sem perceber, e a orientação pode dar habilidade aos brasileiros de gerir suas escolhas,” afirma.


Alexandra, que transformou sua vida ao decidir sozinha a parar de se endividar, sugere um bom controle sobre os gastos, inclusive os pequenos. “Eu era muito consumista. Gastava com pequenas coisas o tempo inteiro e não colocava no orçamento,” diz. Ela diz que que tudo deve ser anotado. “Quando relacionamos o que gastamos, não devemos incluir apenas o básico. Tem que entrar também o sorvete, a bolacha e a bala que compramos na rua,” afirma.


Ela também diz que o que mudou sua vida foi a decisão de ter apenas um cartão de crédito. “Não adianta ficar sem nenhum, porque podemos precisar, mas acho que o ideal é ter um só,“ afirma. “Quando temos muitos, fica fácil de se perder no meio das contas. Além disso, quanto mais você gasta, mais as empresas aumentam seu limite,” afirma.


A busca de uma ajuda profissional também animou a servidora a deixar de ser consumista. “É bom passar por uma psicóloga. Eu fiz isso. Tive força de vontade e busquei um tratamento. Aprendi que eu tinha um distúrbio de ansiedade e hoje consigo controlá-lo,” diz.


Hoje, Alexandra faz cursos de educação financeira para se manter atualizada e para dar orientações para familiares e amigos. “Quero ajudar meus sobrinhos, que gostam de gastar,” diz, ao final de uma palestra de educação financeira oferecida gratuitamente pelo Procon-SP, em São Paulo.

Fonte: iG Economia

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