segunda-feira, 7 de abril de 2008

O efeito consumista da propaganda


Por Conrado Navarro*

Onde fica a educação financeira diante do cada vez maior desejo de consumir e bombardeio por parte das propagandas? O questionamento é parte fundamental do exercício de educar financeiramente nossos pares e deve ser encarado de forma séria e responsável. A corrida pelo correto gerenciamento de nossas finanças passa por certas “provas”, muitas vezes difíceis, sacrificantes e desestimulantes. De maneira geral, é na lacuna emocional criada quando questionamos os nossos desejos que as empresas atuam de forma mais incisiva. Um comercial, por exemplo, é uma ferramenta puramente emocional. Seu dinheiro, no entanto, não é.

Eliana Bussinger, mestre em Economia pela FGV-SP e colunista dos sites Infomoney, Mulher Invest e Vya Estelar, explica essa relação:

“A sociedade brasileira, que está mostrando uma face de maior sofisticação na última década, impele as pessoas a copiar o estilo de vida que vêem retratado nos programas de televisão. No comercial da margarina, não queremos apenas a margarina. Queremos tomar o café da manhã com uma mesa tão bem posta quanto a do comercial: o mesmo jogo de pratos, os talheres, os armários maravilhosos de cozinha, as flores sobre a mesa, o lindo cão de caça golden retriever”

É visível o quão além da “margarina” as pessoas andam tentando chegar. Neste cenário de estabilidade econômica, inflação controlada e consequente aumento do poder de compra, a enorme oferta de produtos e seus belos comerciais são amplamente absorvidos pela população brasileira. Simplificando, a publicidade nunca funcionou tão bem. Aqui, não cabe um estudo estatístico específico da área, mas uma breve opinião sobre o enorme universo de pessoas que se enforcam para viver além da “margarina”. Crédito obtido de maneira fácil, muitas compras parceladas e dívidas roladas indefinidamente são a realidade de muitos brasileiros e seria hipocrisia de nossa parte tratar o tema com falso moralismo. A verdade, mais cruel, é que a grande maioria de nós não vai conseguir sair das dívidas ou investir no futuro se quiser seguir o estilo de vida que nos mostram na televisão ou nas revistas.

Atitude e informação.

A transformação das indústrias de tecnologia, comunicação e publicidade também foi acompanhada pela evolução das alternativas financeiras de investimento e poupança. Os bancos e serviços financeiros sofreram grandes mudanças nas últimas décadas, apresentando alto grau de sofisticação em alguns segmentos. Isso significa notar mais produtos disponíveis para o consumidor, melhores chances de obter maior rentabilidade e possibilidade de planejar melhor o futuro. Cabe a nós optar por estudar melhor estas alternativas.

Vejo pessoas estudando por diversos dias a compra de um novo televisor, pesquisando aspectos técnicos, preços, prazos de entrega e suporte pós-venda. Tal atitude os classifica como cidadãos inteligentes, responsáveis e diferenciados. Não raro, essas pessoas não gastam nem metade do tempo dedicado ao produto para investigar sua capacidade de pagamento, seu fluxo de caixa e sua real necessidade diante da oferta. Onde está a coerência? A questão não é tão simples quanto parece, é verdade. Informações sobre a TV podem ser encontradas com uma facilidade incrível, tanto na internet quanto fora dela. Informações e análises corretas de seu orçamento familiar, dos produtos bancários disponíveis em seu banco e do seu futuro financeiro ainda estão em falta nas “prateleiras” brasileiras.

Não se trata de uma guerra

A publicidade, o comercial e a propaganda precisam existir. Eles são o ponto de contato entre uma empresa e seus clientes, são uma ferramenta de adaptação à opinião dos consumidores. Como um profissional não relacionado à publicidade, limito-me a dizer que tudo isso é relevante porque nos coloca diante de novas oportunidades. É comum notar algumas pessoas ligando o consumismo ao grande apelo das propagandas e comerciais. Elas se esquecem que, em uma economia de mercado, o dinheiro só sai de seus bolsos se elas quiserem.

Não adianta limitar nossa exposição ao que é bacana, barato ou legal. Censurar, limitar e reclamar são atos que transferem a culpa aos outros. Não adianta limitar a demanda, reprimindo a inovação e a criatividade das empresas. A solução, a meu ver, é mais objetiva e menos dramática: cabe a nós definir o limite do que é bacana, barato ou legal. Se mesmo depois de bem avaliados os aspectos financeiros da negociação, você decidir consumir, o ônus é inteiramente seu. Que tal destinar mais tempo ao seu dinheiro?

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*Conrado Navarro, 27, é consultor de finanças pessoais e investimentos. Com formação técnica e MBA Executivo pela UNIFEI, ministra palestras, mini-cursos e workshops para empresas, comunidades e estudantes em toda região Sudeste. É sócio-fundador do Dinheirama - www.dinheirama.com - onde mantém artigos, opiniões e grande parte de seu trabalho disponível de forma gratuita.
Nota: Este texto foi reproduzido com autorização do autor. Sua reprodução a partir deste site está terminantemente proibida.

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