sexta-feira, 4 de abril de 2008

O investidor inteligente sempre pensa na inflação


Por Conrado Navarro*

O poder de compra deve ser uma das grandes preocupações quando o assunto é poupar e investir nosso suado dinheiro. Interessante notar que a inflação era uma variável bastante comentada antes do Plano Real, fruto das combalidas e malucas políticas econômicas de outros tempos. Imagine você, caro jovem investidor, que a inflação foi de 2.477,15%, ou 3,20% ao dia, em 1993. Já em 1995, apenas dois anos depois e já com a circulação do Real, vimos a inflação cair para 22,41% ao ano. Assombroso, não?

A hiperinflação acabou, a inflação não!

É comum encontrar investidores de mais de 35 anos que consideram importante as leituras sobre inflação quando estão por decidir sobre o destino de seu dinheiro. No entanto, é visível a reação de pouco caso da nova geração, que ainda não percebeu “na pele” o poder do dragão. O importante não é apenas preocupar-se com ela ou achar que o dragão está hibernando, mas sim ter esta certeza. Para isso é preciso considerar a inflação um risco. Paulo Barcellos, economista-chefe do Banco Cooperativo Sicredi, concedeu ao periódico Estadão Investimentos uma recente entrevista sobre isso. Ele afirma que “há quem pense que se trata de um problema do passado, totalmente controlado, mas não é bem assim”.

Em suma, é ótimo que a economia e os preços estejam mais estáveis e previsíveis. Apesar da recente crise hipotecária norte-americana, recebemos as excelentes notícias sobre a expansão da economia brasileira em 2007, da queda consistente dos juros básicos (taxa Selic) e da grande oferta de crédito à população. No entanto, os preços de muitos insumos, produtos, commodities e bens de consumo subiram em 2007. Como exemplo, o Índice de Preços do Atacado - IPA-DI, medido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), subiu 14,48% em 2007. Alta expressiva, já que em 2006 o índice cresceu apenas 1,31%.

Corroendo o poder de compra

Com a alta dos preços, fica fácil notar o enfraquecimento do poder de nosso dinheiro. Essa relação não é tão clara para os mais novos, acostumados apenas com a rapidez da Internet, mas ainda tentando aprender a correta velocidade do dinheiro. Estraçalhando de vez com o “economês”, imagine que você tem R$ 10,00 e que um pacote de macarrão custe, hoje, R$ 9,50. Você decide guardar estes R$ 10,00 debaixo do colchão e com eles enterra a idéia de que o valor é suficiente para comprar uma boa massa daqui há algum tempo.

Se levarmos em conta uma inflação média de 4% para os próximos cinco anos, veremos o macarrão subir R$ 0,38 todo ano. Passados 5 anos, o pacote custará R$ 11,40. Quanto estará valendo sua nota de R$ 10,00 guardada debaixo do colchão? Claro que os mesmos R$ 10,00! Você comprava o mesmo pacote de macarrão com os R$ 10,00, agora não compra mais. Bem-vindo ao mundo real, onde a inflação, ainda que controlada e pequena, ataca sem dó. O mesmo vale para os investimentos de longo prazo. A história foi bem básica, é verdade, mas agora pense no seguinte: você, ainda sem se preocupar com a inflação, decide colocar seu dinheiro na caderneta poupança pelos próximos 10 anos. A partir daí, verá seu dinheiro rendendo algo próximo de 7% ao ano e, considerando sua aversão ao risco, vai se dar por contente. No entanto, passados todos estes anos você percebe que o dinheiro que possui em mãos compra pouca coisa e culpa as lojas, governo e empresas “pelos juros altos e pela inflação”. Inflação? Você disse inflação? E como foi que se esqueceu de considerá-la 10 anos atrás?

Seu amigo, mais precavido, resolveu investigar e ler sobre a inflação e outras alternativas de investimento. Ele percebeu que havia uma certa tendência e que a inflação se estabeleceria entre 4% e 5% ao ano durante os 10 anos seguintes. Assim, ele optou por usar a média, 4,5%, para seus cálculos iniciais. Lápis em punho, ele viu que a poupança lhe daria uma rentabilidade real (rentabilidade menos inflação) de apenas 2,5%. “É pouco”, concluiu. Assim, resolveu arriscar-se em fundos de ações, títulos públicos indexados aos índices de inflação (garantem rentabilidade real) e fundos multimercado.

Quem terá mais dinheiro depois destes hipotéticos 10 anos? Que tal preocupar-se com outra pergunta: qual dos dois investidores está mais preocupado com o investimento de seu dinheiro e o raciocínio financeiro necessário para fazê-lo multiplicar-se? As variáveis envolvidas são várias e meu objetivo aqui não é menosprezar o risco, as escolhas pessoais de cada um ou as alternativas conservadoras. No entanto, é indiscutível que o seu amigo foi mais inteligente nos argumentos e escolhas realizadas, dado o prazo e as opções levadas em consideração.

Tudo que este artigo pretende fazer é alertá-lo para a inflação, que promete ser maior em 2008 do que foi em 2007. Com isso, a rentabilidade real de suas aplicações cairá e cabe a você preocupar-se em reavaliar suas posições e percentuais. Será que não é hora de mover parte do dinheiro da caderneta de poupança para um CDB DI ou título público? Será que não é hora de começar a investir em ações e ativos de maior risco pensando no longo prazo? Estas são algumas perguntas que posso ajudá-lo a responder, mas antes você precisa aprender a fazê-las sozinho. Aceita o desafio?

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*Conrado Navarro, 27, é consultor de finanças pessoais e investimentos. Com formação técnica e MBA Executivo pela UNIFEI, ministra palestras, mini-cursos e workshops para empresas, comunidades e estudantes em toda região Sudeste. É sócio-fundador do Dinheirama - www.dinheirama.com - onde mantém artigos, opiniões e grande parte de seu trabalho disponível de forma gratuita.
Nota: Este texto foi reproduzido com autorização do autor. Sua reprodução a partir deste site está terminantemente proibida.

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